A aguardada “super quarta” se aproxima, despertando grandes expectativas em relação às decisões sobre juros do Federal Open Market Committee (FOMC) nos Estados Unidos e do Comitê de Política Monetária (Copom) no Brasil. Enquanto o Fed pode iniciar um ciclo de flexibilização, com cortes de juros esperados, o Banco Central do Brasil deve seguir um caminho distinto, aumentando as taxas em um ambiente de forte crescimento da economia local, política fiscal generosa, inflação em ascensão e um real mais debilitado.
Recentemente, o dólar passou por uma queda significativa frente ao real, passando da faixa de R$ 5,60 para R$ 5,50, alimentado pela suposição de que o Fed pode adotar uma postura ainda mais agressiva em relação aos cortes de juros, possivelmente reduzindo a taxa em 0,50 ponto percentual. Vale destacar, no entanto, que, ao longo do ano, o dólar já apresenta uma valorização superior a 13%.
Uma análise do Goldman Sachs evidencia que, historicamente, aumentos no diferencial de taxas entre Brasil e Estados Unidos estão frequentemente associados a um real mais fraco, o que reflete o aumento do prêmio de risco relacionado ao Brasil. Essa dinâmica mostra que simplesmente olhar para o movimento das taxas pode não ser suficiente para calibrar uma resposta cambial eficaz.
Apesar disso, o banco nota que houve momentos em que essa relação se inverteu, como em 2016, quando as taxas reais superaram a média, e durante o ciclo de alta em 2021-2022, onde as taxas nominais subiram mais rapidamente que a inflação.
Ao utilizar um modelo de valor justo cíclico para determinar o prêmio de risco doméstico no câmbio, o Goldman observou que o real teve um desempenho inferior a outros mercados emergentes, registrando uma desvalorização de 3,5% desde o fim de junho. Essa situação foi acompanhada pela divergência nas expectativas de inflação de longo prazo em relação à meta estabelecida.
A análise sugere que, caso o Banco Central adote uma comunicação firme e preocupada com a inflação na próxima reunião, isso poderia contribuir para um fechamento da lacuna de desempenho entre o dólar e o real, protegendo a moeda de uma nova deterioração frente a notícias fiscais ou de inflação, especialmente considerando os níveis já esticados.
As previsões indicam um ciclo moderado de aumento das taxas, levando a taxa Selic de 10,50% para 11,75%. O mercado espera um aumento de 0,25 ponto percentual nesta reunião, elevando a taxa para 10,75% ao ano.
Para o Goldman, desbloquear o potencial completo do real, que atualmente apresenta um desempenho cerca de 8% abaixo do que seria esperado de acordo com os fundamentos, requer uma articulação clara e um comprometimento com uma âncora fiscal de médio prazo. A credibilidade nas políticas fiscal e monetária será essencial para garantir a estabilidade e a valorização da moeda brasileira.