O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Dias Brito Gomes, destacou recentemente que a percepção fiscal em relação ao Brasil está influenciando diretamente os prêmios de risco no mercado. Ele ressaltou que, na ausência de reformas estruturais, o arcabouço fiscal nacional pode não se sustentar, uma preocupação que é compartilhada por muitos investidores.
Durante um evento realizado pelo HSBC em Washington, à margem das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, Gomes comentou que a visão negativa predominante entre os investidores está atrelada à fragilidade da política fiscal brasileira, que tende a reagir de forma sensível a qualquer desaceleração econômica.
As declarações de Gomes surgem em um contexto onde o mercado aguarda ansiosamente anúncios do governo Lula sobre medidas concretas de contenção de gastos. Embora sejam prometidas ações para garantir a sustentabilidade fiscal após as eleições municipais, cresce a desconfiança sobre a eficácia dessas medidas, refletida no recente aumento nos prêmios da curva de juros, onde contratos de DIs estão se aproximando de 13%.
Além disso, Gomes defendeu a importância de reformas estruturais que deem mais transparência e previsibilidade à gestão fiscal do país. Ele prevê um crescimento acima de 3% para 2024, com a expansão fiscal estreitamente relacionada a esse resultado.
No que toca à política monetária, ele reafirmou que a meta de inflação do Banco Central é de 3%, alertando que o ajuste fiscal impacta as expectativas inflacionárias, necessárias para a implementação de uma política monetária eficaz.
Recentemente, o Banco Central elevou a taxa básica Selic para 10,75% como resposta à dinâmica inflacionária, e o mercado já sinaliza a possibilidade de uma nova elevação em novembro.
Gomes também mencionou que a situação externa tem influenciado a curva de juros brasileira, muito por conta das oscilações nos rendimentos dos Treasuries americanos. A expectativa de cortes de juros mais lentos pelo Federal Reserve e a possível vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA também têm gerado volatilidade nos mercados internacionais, refletindo inseguranças que impactam a economia local.
Por fim, o diretor do Banco Central também avaliou a desaceleração econômica da China como um aspecto que merece atenção, devido ao seu impacto sobre os preços das commodities, o que pode afetar diretamente a economia brasileira.
Diante desse cenário, é evidente que o fortalecimento das bases fiscais e o incentivo a um ambiente de negócios menos intervencionista são fundamentais para garantir a recuperação e o crescimento sustentável da nossa economia. A promoção de reformas que favoreçam a liberdade econômica deve ser a prioridade, distantes de políticas que busquem aumentar a carga tributária e o controle estatal.