As casas de apostas esportivas têm gerado inquietação entre os empresários do varejo no Brasil. Embora ainda não exista um consenso sobre o quanto essas novas modalidades de entretenimento impactam o consumo de alimentos e outros produtos essenciais, várias entidades do setor estão se mobilizando para buscar limitações a essa prática junto ao Congresso Nacional e ao Executivo.
Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, expressou, durante um evento do Banco Santander, que, a curto prazo, não observa um impacto significativo das apostas nas vendas do varejo. Contudo, ele reconhece que o crescimento desse tipo de gasto no Brasil é expressivo e, por isso, o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) já levou essa questão ao vice-presidente Geraldo Alckmin.
Enquanto o IDV inicia pesquisas e mantém diálogos com autoridades, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) busca implementar restrições mais específicas. De acordo com Marcio Milan, vice-presidente institucional da Abras, a entidade se uniu a grandes empresas, como a Unilever, para apoiar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa limitar a publicidade das casas de apostas. O deputado federal Luiz Gastão (PSD) é o responsável por coletar assinaturas para apresentar essa proposta.
A Abras também tem orientado as empresas do setor a serem criteriosas na escolha de agências de marketing e influenciadores, enfatizando que esses profissionais não devem ter vínculos com jogos de apostas.
Embora Milan tenha apontado que ainda não há dados concretos associando o consumo em supermercados à ascensão das apostas, ele acredita que questões mais claras sobre o tema se manifestarão em breve. Pesquisas preliminares sugerem que os gastos com apostas estão desviando orçamento familiar de outras despesas, como poupança e lazer, o que pode ter repercussões significativas para a economia.
Um estudo da PWC aponta que as apostas esportivas estão em franca expansão, com projeções indicando um aumento de 89% ao ano entre 2020 e 2024, resultando em um desembolso estimado de R$ 40 a R$ 50 bilhões em 2023. Os dados também revelam que esses gastos representam uma parte crescente do orçamento familiar, especialmente nas classes D e E, onde o percentual de renda destinado a apostas subiu consideravelmente desde 2018.
Adicionalmente, pesquisas indicam que 63% dos entrevistados afirmam que sua renda está comprometida devido ao hábito de apostar, afetando suas decisões de compra em categorias essenciais, como vestuário e alimentos.
A questão levantada por Jorge Gonçalves, presidente do IDV, é a necessidade de se aprofundar a análise sobre como os gastos com apostas afetam não apenas o consumo, mas também áreas ligadas à saúde pública e segurança alimentar. Ele também questiona a tributação desigual onde produtos que geram dependência, como bebidas alcoólicas, são mais pesadamente taxados que as apostas esportivas.
Mauro Toledo, da PWC, destaca que, apesar de a falta de números conclusivos dificultar uma análise precisa, é evidente que um aumento em gastos em uma categoria resulta em diminuições em outras. A crescente popularidade das apostas esportivas no Brasil, especialmente entre as classes mais baixas, indica que um realinhamento nos gastos familiares está em curso, com potenciais consequências para o consumo geral e a economia do país.
(Fonte externa)